quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Eu é que sei




A boca logo cedo sussurrava uma refrão: "Eu é que sei!", "Only this and nothing more". Eu lhe pergunto: É só isso e nada mais? Vejo uma duzia de ratos alados cruzarem a janela e pousarem sobre o casarão de 1913, em ruínas! é uma prova que a lei da gravidade nem sempre é exata.





Eu é que sei

Não sorria para mim, imbecil.
Não necessito do sorriso desbotado dessa
sua cara de palhaço sem emprego.
Não precisa viver se enganando
nem tentar me fazer viver enganado também.
Eu é que sei o quanto são boas as suas
intensões. Mas em que
o consolo de um infeliz desconsolado
poderia me ser útil?
Eu é que sei!
Eu é que sei deste nó carioca do caralho
dado em minha garganta!
Eu é que sei, tá!
Eu é que sei desta dor filha da puta que
esgarça os esparadrapos e futuca
meus machucados que nunca saram!
Eu é que sei, porra!!!
Eu é que sei o quanto as ratazanas
desse imenso esgoto
me roem roem roem roem roem
Eu é que sei!
Eu é que sei, por saber das coisas que me
fazem mal,
o que fará bem - ou não - pra mim!
Somente eu, eu é que sei o que preciso
pra ficar legal!
E o que eu preciso... o que eu preciso,
enfim...
Preciso da solidão,
Companheira nas agitadas e imundas ruas
dessa cidade.
Preciso é da alegria suicida
de cada pingo que pinga pungente
dessa chuva tão fria...
de água ardente!
Preciso é de um porre da confortante e mel-
odiosa música depressiva de Bauhaus!

A boca só parou de falar quando o texto chegou ao fim, de quando em quando ainda a ouço sussurrar: "Eu é que sei", pergunto de boca aberta de quem é o texto, a boca de boca fechada sorri, Luciano Dias Soares, como ele mesmo diz: "escreve pelo prazer de manipular a palavra e ter o que dizer".

Tela: HD Expressionista