quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Nestes dias em que é tudo névoa-nada


Nestes dias em que é tudo névoa-nada e o tempo passa o tempo todo as pessoas que passam pelo tempo o tempo todo as tempestades de todos os fins de tarde a água dilui o dia embaça a tarde lava a noite os que vagam noite adentro dia a fora pulando os buracos da calçada a imagem refletida na poça d`água de uma ficção coletiva ou não mas ficção o eterno devir à deriva este umbral dos loucos Augusta abaixo criaturas abaixo das bestas  as ninfas se depilando de janela aberta junks putas boêmios os cacos de garrafas nas calçadas o pó que água nenhuma leva os sacos de lixo violados aos milhares Baco logo ali com seu séquito agora vejo um colchão de casal descendo na enxorada a mulher de cabelo de alface sorri com a cena penso em Artaud dormindo sobre este colchão descendo com o lixo na enxorada sonhando com o teatro da crueldade






Foto: Carla Bispo

sábado, 2 de janeiro de 2010

batacada

"contribuição poética e voluntária de Carla Bispo"

e portanto
é preciso sambar...
fazer samba é viver
e não sofrer...


batacada...cada um cada um. 

araci de almeida

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Lá fora, vendo a chuva que caí lá fora


O tempo passa o tempo todo, vendo as nuvens negras cobrindo o céu, cedo à tentação de ver a chuva cair lá fora: a tempestade que desaba sobre o lago tornando sua água mais líquida, sobre o lago vê-se a ponte, sobre a ponte sobre o lago vê-se pessoas correndo sob a chuva, de bicicletas, refletidas no lago, sob a chuva sobre a ponte sobre o lago pessoas sobre bicicletas passam, vagarosamente. O lago sob o céu refleta a chuva e o que passa sobre ele. Sob a chuva lá vem o mestre-sala das águas, com um sorriso de orelha a orelha, com seus raros dentes de marfim, sua boca quase banguela, sua pele negra, anda como quem samba, vive como quem se equilibra na corda-bamba, bom de papo e ruim de grana. De pronto cede o isqueiro para por fogo em meu cachimbo, entre fumaça e chuva o vejo partir, lá se vai com sua ginga de bom malandro, andando como mestre-sala, sambando nas poças d´água. Eu permaneço onde estou: Lá fora, vendo a chuva que caí lá fora! olho a programação do Planetário, penso em Plutão rebaixado a planeta anão ou pedra boiando no espaço, os analistas contando dinheiro, fruto da crise dos que perderam o ascendente... quem perde, busca! mesmo que seja no espaço infinito, uma motivação para se tornar estrela, ver claramente o norte, mas estrela é coisa do firmamento, nós vivemos cá embaixo, com lagos sob ponte e pessoas correndo sob a chuva sobre a ponte. Quem está sobre a ponte e olha para o lago vê: ela mesma , agora parada, refletida no lago sob a chuva, sobre a ponte, sobre o lago... e o tempo passa o tempo todo. Só está chuva insiste em não passar.


Foto: HD Expressionista