domingo, 5 de dezembro de 2010

Da primavera que nem veio ou Borboleta azul


Mandame Butterfly regava a amoreira repleta de lagartas multicores e dizia: veja, que belas borboletas. não vi borboletas, me vi com frasco de polietileno de álcool e fósforo à mão, belas borboletas metafísicas com asas de fogo pairaram no céu violáceo. Vi Jan Saudek fotografando os corpos surrados da Augusta, no olhar a essência da angustia: Névoanada! Lautreamont saí da passagem subterrânea da Roosevelt com seus novos manuscritos na mão, cenas da mais pura poesia e essência humana: a criança branca devorada por ratos cinzas no ralo  sujo da história, os sacis sem cérebros que vagam cidade a fora, hienas urbanas promovendo arrastão em pró das pedras. praça quatorze bis, berço braço de sonhos naufragados, os gêmeos eternamente rescenascidos para o nada e sempre, tão magros que mortos pareciam vivos, por três semanas à luz tênue da noite sua mãe as ninou. Ouço marcelo ariel e joe lendo tratado dos anjos afogados. ouço a lagarta comendo as folhas da amoreira, olho; como é feia. Ela nem liga e segue sendo lagarta em folha de amoreira até deixar de ser e ser outra coisa como borboleta. Voa, vai! assim sai as cores da asa da borboleta, em pleno vôo como uma explosão. Madame Butterfly sorri e voa...

Foto: Intima visão de um corpo surrado
João Pirahy & Flávia Spinardi