sábado, 3 de abril de 2010

Dentro da noite veloz ou o nada elevado a categoria de diálogo


A multidão, dentro da noite veloz, desce a Augusta, como câncer crescem os buracos da calçada, até calçada e buraco tornarem se uma coisa só. Vejo o vulto de Caio Fernando Abreu pulando amarelinha com Cortázar ou pulando os buracos, Baco bebado trança as pernas, desaparece na escuridão, o umbral dos loucos não para nunca. Vejo Andy Warhol, o horror da superficilidade de sua obra elevada ao que não é: obra. Elevemos, daqui por diante, o Nada a categoria de diálogo, confissões publicas sussurradas das bocas de lobos, em tom de segredo, num canto escuro da esquina do mundo, em decubito dorsal entre sacos pretos de lixo, a pele branca o cabelo branco o saco preto do qual sai sua cabeça de mulher, com um caqui rubro esmagado entre as mãos brancas, a boca lambuzada de caqui, comia como um dócil bicho, o bom engraxate e a caixa dos milagres da qual brota de tudo, o semáforo... suas luzes decorativa despresadas por grupos de skatistas noite adentro, Augusta abaixo, um skatista sobre o skate, arrastando uma mala com rodinhas, Augusta adentro, Dali adoraria a cena. Salvador como é acrescentaria à cena semáforo e os postes postos nas entranhas.

Foto: Roberto Assem
www.robertoassem.com.br